POETAS DO BRASIL

Blog para divulgar poetas brasileiros e estrangeiros que têm participado das atividades do Congresso Brasileiro de Poesia, realizado anualmente na cidade de Bento Gonçalves/RS, sempre na primeira semana de outubro

segunda-feira, março 03, 2008

ANTONIO MIRANDA — Antonio Miranda é poeta e romancista.
Professor da Universidade de Brasília, tem seus textos publicados e apresentados em teatros de diversos países, e em várias línguas.
Seus livros mais conhecidos são “Tu País está Feliz” (em português e em espanhol), “Per Ver Sos”, “Retratos e Poesia Reunida” e “Despertar das Águas”.
Seus poemas também podem ser lidos na Internet:
www.antoniomiranda.com.br

DEBAIXO DA PELE

© ANTONIO MIRANDA

Sobre a pele
outras peles
como armaduras;
sob a pele
outras peles
como tessituras
indeléveis.

Como camadas
no solo ermo
de cebola ardida:
uma inscrição
inconformada.

Quem é que habita as profundezas
do ser? Com certeza é outro
na superfície mais externa
de sua conformidade.

É-se o quê? Sujeito a que desígnios?

Vestir-se
de todas as peles, fantasiar-se
e desvestir-se de véus
como lâminas
acesas.

Sujeito.

Todos os que fomos
sobrevivem em nós
ostentando perdas e ganhos.

ISNELDA WEISE — Isnelda Weise nasceu em Ibirama (SC) e atualmente vive em Blumenau (SC). Formada em Direito e em Letras, pela FURB, escreveu seus primeiros poemas ainda na infância, sendo que atualmente vem se dedicando ao estudo e práticas do soneto e do haicai.
É membro da Sociedade dos Escritores de Blumenau, da Sociedade dos Poetas Advogados de SC e participa como consulesa da entidade Poetas Del Mundo. Tem textos publicados na antologia “Prosa & Verso” I, II, III e IV e na antologia “Um Rio de Letras” II e III. Participa do Projeto Pão e Poesia da FCB, publicando ainda em jornais, revistas e murais e também em sites da Internet e blogs.
Seu primeiro livro solo, “AguAlento”, nasceu dentro da Universidade com o texto que dá nome ao livro. A obra é uma coletânea de poemas breves, com os quais a poeta reinicia um ciclo de sua vida interrompido quando das cheias do rio Itajaí-Açu, em 1983, ciclo este que terá continuidade com a publicação de sonetos, haicais e outros poemas, já em elaboração.

ÁGUA DE MARÇO

© ISNELDA WEISE

Quando em cascata se solta
Água é qual salto sem rede
Vida que nem sempre volta
Queda a fartar quem tem sede.

Água é anistia de pecado
Córrego a irrigar nossa alma
Quando o coração extenuado
Pede o frescor de água calma.

Água de março é cacimba
Riacho cantante na forma
De oásis a sonhar fonte infinda.

E acima da fugaz sobrevida
Prossegue entre pedras, contorna
Lavando a mão que a trucida.

HERBERT EMANUEL — Herbert Emanuel nasceu na cidade de Macapá, no Estado do Amapá, no dia 20 de Fevereiro de 1963. Mudou-se para Belém no final de 1976, ali residindo até 1988. A maior parte de sua formação escolar e literária deu-se nessa cidade. Formado em Filosofia pela UFPA, em 1987. Em 1989, ministrou as disciplinas Filosofia da Educação I e II, no antigo Núcleo da Universidade Federal do Pará, em Macapá. Dez anos depois, lançou seu primeiro livro, intitulado “Nada ou quase uma Arte”, com apresentação do poeta gaúcho Carlos Nejar. Em 1998, lançou, em parceria com o artista plástico e mímico Jiddu Saldanha, Cartões Poéticos. Alguns poemas seus estão incluídos na Antologia Poética Poesia do Grão-Pará, 2001, com seleção e notas de Olga Savary. Em 2006 lançou o livro “Do Crepúsculo ao outro dia”, em parceria com o poeta e artista plástico Jiddu Saldanha. Possui artigos publicados em vários jornais sobre temas artísticos, literários, filosóficos e culturais. Atualmente, está preparando 3 (três) livros de poemas, intitulados “ISTO”, “RES” e “DESASPEREZAS”, e um livro de ensaios, “Guarda-chuva Paradoxal”.

talvez
não importe
tanto azul
assim
para que dezembro
te encha

vale esperar
pelos dias
de sol

na calçada
a noite
se acende

dentro
o branco
hálito da cor

* do livro inédito Desasperezas

© HERBERT EMANUEL


BERNARDETHE GHIDINI ZARDO — Bernardethe Pierina Ghidini Zardo nasceu em Nova Prata/RS, filha de Arthur e da poeta Ophélia Sander Ghidini. Casada com Remos Vitório Zardo (in memoriam) com quem teve dois filhos: Alessandro e Rodrigo. Graduou-se em Educação Artística pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Cursou pós-graduação em Folclore na Faculdade de Música Palestrina de Porto Alegre, e em Filosofia Prática na UCS.
Profissional da área da educação artística, com 30 anos de experiência nas áreas de alfabetização para 1º e 2º graus e educação para adultos, agregou estudos à postular, de forma ativa e dinâmica, práticas diferenciadas e fundamentações sobre o processo de construção do conhecimento na Educação — Formação do Sujeito e suas Interatividades no Social. Impulso este, sempre renovado, culminando, nos últimos sete anos, em engajamento e aprofundamento científico-filosófico nas áreas da Filosofia, Estética, Poética, Literária, pelo resgate do ser humano pelo paradigma ético-estético, transformadores da alma humana, sob um prisma a ser integrado.
Integrante da Academia Caxiense de Letras, onde ocupa a cadeira 31, participou da “Antologia da Festa da Uva” (2002), do Caderno Literário “Pai” (2004). Criou diversas capas de livros e participou de exposições coletivas de arte.


O DIA SE FEZ BORBOLETA

© BERNARDETHE GHIDINI ZARDO
Sarah cochicha com as florinhas
no seu secreto jardim,
um palácio de imagens mutantes
sem paredes de vidro, sem flores de cetim.

Corre atrás da borboleta amarela
que corre atrás da queixosa flor
saudando o tempo grisalho
as duas correm atrás do amor.

Brincam de esconde-esconde
abrindo passagem na rica flora
encontram-se ao meio-dia
quando se abrem as onze-horas.


Onze horas de amor
no meio do dia sem sombras
mil desoras espalhadas
vestem o corpo da alfombra.

As horas mortas renascem
no jardim das sempre-vivas
alimentando a borboleta amarela
o perfume da flor cativa.

Sarah sente-se viva
correndo atrás das borboletas
longe dos grilos falantes
correndo atrás da sua mágica luneta.

Parece seu olho sair do corpo
quando olha o jardim através da luneta
vê seu retrato na flor do tempo
com cerúlas asas de borboleta.

O que sabe não mais sabe
diante da natureza que o belo cria,
onde se arrasta a lagarta
nascem flores todos os dias.

Silenciosa linguagem desperta
a alma dos seres alados
viajando pela noite dos tempos
Sarah carrega todos os fados.

O dia se fez borboleta
para que a noite possa ser bela,
uma noite cheia de estrelas
é um jardim de borboletas amarelas.