POETAS DO BRASIL

Blog para divulgar poetas brasileiros e estrangeiros que têm participado das atividades do Congresso Brasileiro de Poesia, realizado anualmente na cidade de Bento Gonçalves/RS, sempre na primeira semana de outubro

domingo, março 25, 2007


OSCAR BERTHOLDO — nasceu no ano de 1935, em Nova Roma do Sul, e foi assassinado durante um assalto a sua residência, em fevereiro de 1991. Considerado a voz mais expressiva da poesia da Serra Gaúcha e um dos maiores poetas contemporâneos do Rio Grande do Sul, estreou em livro participando da antologia “Matrícula” (1967). Foi a primeira vez que um livro de poesia editado no interior do estado gaúcho recebeu espaço nas páginas dos jornais da capital. Depois publicou: “As Cordas” (168), “O Guardião das Vinhas” (1970), “A Colheita Comum” (1971), “Poemimprovisos” (vencedor do prêmio do Instituto Estadual do Livro/1973), “Lugar” (vencedor do I Concurso Nacional de Literatura da Caixa Econômica de Goiás/1974), “Vinte e Quatro Poemas” (1977), “Árvore & Tempo de Assoalho” (1980), “Informes de Ofício e Outras Novidades” (1982), “Canto de Amor a Farroupilha” (1985), “C’Antigas” (1986) e “Momentos de Intimidade”. Participou de inúmeras antologias, entre elas: “Histórias de Vinho”, “Vinho dá Poesia”, “Arte & Poesia” e “Poetas Contemporâneos Brasileiros – Volume 1”, esta a primeira antologia publicada pelo Congresso Brasileiro de Poesia.
Após sua morte foram publicados: “Amadas Raízes”, “Poemas Avulsos”, “Boca Chiusa” e “Molho de Chaves”, além de poemas nas seguintes antologias: “Poeta Mostra a Tua Cara – Volume 4”, “Medida Provisória 161”, “Poesía de Brasil – Volumen 1”, “Poesía Brasileña para el Nuevo Milenio”, “Poésie Du Brésil – volume 1” e “Poesia do Brasil – volume 1”, livro que inaugurou a série de antologias oficiais do Congresso Brasileiro de Poesia.
Além dos prêmios do Instituto Estadual do Livro do Rio Grande do Sul e da Caixa Econômica de Goiás, obteve ainda dois segundos lugares em importantes concursos literários: no “II Concurso Nacional de Poesia Sobre o Vinho” e “Prêmio Master de Literatura/1986”.
Foi um dos maiores incentivadores do movimento cultural da Serra Gaúcha, exercendo forte influência em todos os movimentos literários surgidos entre os anos 1960 e 1990. Teve decisiva participação na criação do Congresso Brasileiro de Poesia, do qual foi uma das grandes atrações em sua primeira edição, vindo a ser assassinado poucos meses antes da realização do segundo evento.

TENTAÇÃO 26

© OSCAR BERTHOLDO
1935 – 1991

Nasce este poema, de joelhos.
Sou o que busca
porto de
ancorar.
é tão simples estar de joelhos
longe de todos e
ver no tempo o próprio rosto desfeito
e nele todos os dias
com seus cansados desejos
com os renovados desejos
sob o peso constante
de Deus.

Ando para o múltiplo
vale com sede de tudo
e chego sabendo
que não poderei criar
outro corpo, igual ao meu
outra carne, semelhante à minha
(meu nome será
herdado por ninguém)

Ninguém soletrará
um dia os sons do meu nome
ninguém para me amaldiçoar
ninguém para me perdoar
ninguém para me dizer
que meu sangue foi semente... e
germinei nos campos de batalha
onde arranquei as raízes
dos mais úteis possíveis
pelo valor da mensagem
que eu carrego nas mãos
sem a menor malícia,
com os lábios tintos de humildade.

Ando para a lembrança
com sede de tudo
(ninguém para herdar
o meu nome)
ando continuamente
— um dia será ouvida
a minha canção.

KARLA LEOPOLDINO OLIVEIRA FREITAS — é mineira na certidão (natural de Lajinha) e capixaba por amor e opção (radicada em Iúna/ES, há 18 anos ).
Graduada em Odontologia pela PUC-MG, especializou-se na arte de plantar sorrisos e tirar poesia do céu da boca.
Teve seus poemas publicados no Jornal da APCD (SP), Jornal de Casa (B.H.), Correio da ABO–MG e no Jornal Comunicatto (ES).
Exerceu o cargo de Secretária de Cultura do município de Iúna no período de 2001 a 2004.
Publicou em 2005, o livro “Poesia no céu da boca”. Participou da antologia “Poetas do Café” (Volume 2, 2006).


JEITO DE SER

© KARLA LEOPOLDINO

Meu maior defeito
é minha maior qualidade:
minha franqueza é uma navalha que corta
e expõe verdades
que às vezes é melhor esconder...

Queria aprender a mentir
a ficar calada
acomodada
mas não sei fingir
não sou feita desta matéria
não me entrego
comigo não tem meio termo
não aceito, não me calo
não desisto
o que sinto, escrevo
o que penso, falo.

Luto pelos meus sonhos
viro a mesa , mudo o jogo
reinvento a vida
erro, tropeço, levanto
sou uma eterna aprendiz.
Atingi o equilíbrio
perdi o medo
descobri o segredo:
o importante é ser feliz...


DELAYNE BRASIL — nasceu em Seropédica, Rio de Janeiro. Participou das oficinas de poesia da Biblioteca Nacional, ministradas pelo professor Roberto Pontes, e da oficina do Estação das Letras, coordenada pela escritora Suzana Vargas.
Publicou poemas em várias antologias, inclusive na coletânea do seu grupo "Poesia Simplesmente", com o qual organiza o evento “Terça Converso no Café” e o “Festival Carioca de Poesia” — ambos no Teatro Glaucio Gill. Lançou seu cd "Nota no Verso", musicando poemas de autores como Gilberto Mendonça Telles, Reynaldo Valinho Alvarez, Tanussi Cardoso, Laura Esteves, Nei Leandro de Castro, entre outros.

BEBIDA NOBRE

© DELAYNE BRASIL

Da pura uva o vinho é cura
quando se toma em poucas doses

Mas a vida quer, às vezes,
a desmedida:
pede um porre

sábio será quem desta mistura
fizer bebida nobre



JOÃO CARLOS SELBACH — Nasceu na cidade de Barão, Rio Grande do Sul, em 1942. Filho de Sylvio e Alvina Selbach, licenciou-se em História Natural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Tem três filhos: Letícia, Fabíola e Sylvio Selbach Neto. Exerceu o magistério nos níveis Fundamental, Médio e Superior, em vários estabelecimentos de ensino. Aposentou-se em 1999, pela Escola Agrotécnica Federal Presidente Juscelino Kubitschek, de Bento Gonçalves.
Poeta diversas vezes premiados, é uma das mais expressivas vozes da poesia de Bento Gonçalves. Participou das antologias “Poésie du Brésil” (volume 2, 2002), “Poesia do Brasil (Volume 1, 2002) e “Poesia do Brasil” (Volume 3, 2006).


LETÍCIA (Minha filha Especial)

© JOÃO CARLOS SELBACH

Através de domínios
de percepção
que podem ser transmitidos
por linguagem sublime
e exata,
rumo a um silêncio
cada vez mais profundo:
eis a minha
Letícia

O mais elevado e puro
ato contemplativo
é aquele em que se aprendeu
a abandonar a excepcional
linguagem
e, no silêncio, sorrir...

Ser livre
e isenta,
sem atos além dos sonhos.
Assim, nem precisa
falar!
Afinal, anjos não falam,
voam...

Voa Letícia. Voa...

Teu pai estará sempre
a tua espera,
na onipotência do silêncio
divino,
pois estás irremediavelmente
constituída
pela tua relação
com o simbólico.

Assim, não precisas ficar
em descompasso, na singeleza
de como ser.

E nem temas
as nuvens,
pois, ao passar por elas,
explodirão todos os limites
dos teus sentidos
e das tuas
esperanças.

E tantos outros
anjos,
sempre alertas,
virão abrir os portais
da tua candura,
e, com certeza
cairás
em meus braços,
no caminho
onde nascem os sonhos
e estou eternamente
em compasso
com as estrelas.