POETAS DO BRASIL

Blog para divulgar poetas brasileiros e estrangeiros que têm participado das atividades do Congresso Brasileiro de Poesia, realizado anualmente na cidade de Bento Gonçalves/RS, sempre na primeira semana de outubro

sexta-feira, fevereiro 09, 2007


DIANA DE HOLLANDA - nasceu no Rio de Janeiro em setembro de 1984. Teve seu trabalho publicado nas coletâneas “Contos do Rio” (Bom Texto, 2005), “Contos sobre Tela” (Pinakotheke, 2005), e também em revistas como “Poesia Sempre” (Biblioteca Nacional) e “Inimigo Rumor” (Cosac Naify/Sette Letras). Você a encontra em www.candeiadevento.blogger.com.br . Participa do Congresso Brasileiro de Poesia desde a edição de 2005.

pronominal

© DIANA DE HOLLANDA

tudo guardado em minha voz é mar.
todos silêncios são meus e são ondas.
tudo que me vai, como vais à noite
são todos ventos roucos já distantes.
tudo que me atravessa a alma é tardio
todas as cores fugidias correm
aonde tudo é preto e tudo é branco.
tudo perdido no meu peito é sal.
todas lembranças são areia fina
por todas as mãos nossas abraçadas.
tudo jorrado de meu corpo é foz.
toda pungência é sorriso calmo
que todos apressaram-me a tecer.
tudo é vasto sob mim; tudo é fugaz
tudo são todos que puderem crer
quando minha voz for apenas mar.


CLAUFE RODRIGUES - Nascido em 1956, está na estrada da poesia desde 1977, ou seja, há 30 anos, quando fez seu primeiro recital. O primeiro livro, "Uma onda engole a outra" (Ed. do Autor) veio dois anos depois, ao mesmo tempo em que atuava com o grupo Bandidos do Céu, do qual faziam parte, entre outros, Mano Melo e Tanussi Cardoso. Depois dos grupos Bazar do Baratos e Madame Suzi, Claufe juntou-se a Pedro Bial e Luiz Petry para fundar o lendário trio Os Camaleões, em 1984, principal responsável pelo ressurgimento dos recitais de poesia naquela época. Desde então, Claufe Rodrigues publicou cerca de 10 livros, entre eles "Poemas para flauta e vértebra" (Ed. Diadorim, 1994), "O arquivista" (Sette letras, 1995), "Amor e seus múltiplos" (Ed. Record, 1997), "Roman-se" (Ed. Record, 2001), "100 anos de poesia" (O Verso Edições, 2001) e "Escreva sua história" (Ed. Five Star, 2004). Em 1999, fundou com Pedro Bial, Mano Melo e Alexandra Maia o grupo Ver o Verso, trazendo mais uma vez de volta a onda dos recitais. Em 2005, estreou o Palavrão, primeiro programa de poesia da TV brasileira, no Canal Brasil. O poeta e jornalista participa com freqüência de eventos literários, contribuindo para popularizar e democratizar a poesia em várias cidades do Brasil. Através da Globo News, TV Futura e Canal Brasil tem sido o maior divulgador do Congresso Brasileiro de Poesia, além de ser o apresentador oficial, ao lado de Monica Montone, do recital “A Voz dos Povos”.

O DONO DO TEMPO

© CLAUFE RODRIGUES

Vejo beleza em tudo o que vejo
Porque sou poeta e me alimento do que é belo
Ante meus olhos
Baleias viram sereias
Sirenes tocam sinos
Tenho a alma de um menino
Que ainda está para nascer.
Sou o dono do meu tempo
Mas de repente vem um vento e eeeê...

Vejo beleza nos casais que se amaram para sempre
E porque não, vejo beleza nos amantes de ocasião,
Verão vermelho na eternidade cinza.
Vejo beleza na flor e no espinho,
Na água e no vinho,
Na derrota e na vitória.
Vejo beleza na Marina e na Glória, de mãos dadas ao entardecer.
Sou o dono do meu tempo
Mas de repente vem um vento e eeeê...

Vejo beleza nas ruas secundárias,
Mais do que nas avenidas principais.
Vejo beleza nos velhos caminhando nas praças,
Nas meninas comendo pizza nos shoppings,
Até no motorista que avança os sinais,
Enquanto os pedestres passam apressados,
Prestes a enlouquecer.
Sou o dono do meu tempo
Mas de repente vem um vento e eeeê...

Vejo beleza no mínimo e no máximo,
No desperdício e no básico,
No popular e no clássico,
Na música e no barulho,
No vício e na virtude.
Vejo beleza até quando não vejo,
Quando beleza é só o desejo de ver.
Sou o dono do meu tempo
Mas de repente vem um vento e eeeê...


JANE PIMENTELiniciou sua trajetória artística em Passo Fundo. Como declamadora, suas primeiras apresentações foram nas Olimpíadas das Escolas Metodistas. A partir de então, com o apoio do pai, iniciou uma série de recitais por diversas cidades brasileiras e também no exterior. Participa de diversas antologias e tem publicado os livros “Das estradas e encruzilhadas da paixão” e “Velas ao Vento”. Integra o grupo “A Confraria das Borboletas”, que participou pela primeira vez do Congresso Brasileiro de Poesia em 2006, com recital em homenagem ao poeta Mario Quintana.

Como bailarinos
Siameses
Dançamos no asfalto
Madrugada
Irreal noite de lua cheia
Lascivos
Brancos de luz
Sensual dança
Intróito da paixão
Transgressores
De face oculta
Entre rendas
Plumas e
Rimas sussurradas.

© JANE PIMENTEL
(do livro: “Velas ao Vento”)


LEO LOBOS - nasceu em Santiago do Chile, em1966). É poeta, ensaísta, tradutor e artista visual. Laureado UNESCO-Aschberg de Literatura 2002, realiza uma residência criativa em CAMAC, Centre d´Art Marnay Art Center ,emMarnay-sur-Seine, França. Publicou entre outros livros: “Cartas de más abajo” (1992), “+Poesía” (1995), “Ángeles eléctricos” (1997), “Turbosílabas.Poesía Reunida 1986-2003” (2003). Escreve para vários jornais, revistas e sites e tem lido seus textos de arte e literatura no Chile, Argentina, Peru, Brasil, México, Cuba, Estados Unidos, Espanha, França e Alemanha. Co-fundador do coletivo multidisciplinar "Pazific Zunami" junto aos artistas visuais Alex Chellew e Rafael Insunza no final dos anos noventa. É tradutor ao espanhol de vários poetas brasileiros como Hilda Hilst, Tanussi Cardoso, Helena Ortiz, Roberto Piva, Cristiane Grando e Herbert Emanuel entre outros.

ARDENDO SOB AS ÁGUAS

© LEO LOBOS
"As barcas afundadas. Cintilantes
Sob o rio. E é assim o poema.
Cintilante
E obscura barca ardendo sob as
águas"

Hilda Hilst

Nos inícios de uma
constante, de um contínuo
secreto, aqui, lá, mais longe
de tudo de todos os
enigmas ardem sob
as águas estes momentos
de verdadeiro egoísmo
de guerras totais
misérias humanas
restos
dinheiro sujo
ignorância
estupidez

a memória será acaso a
presença do ausente?

(Porque tudo o que tocamos se converte em mundo, o
animal que seremos agoniza nessa jaula.
Leo Lobos, Santiago do Chile, 1993.)

Tradução: Cristiane Grando