POETAS DO BRASIL

Blog para divulgar poetas brasileiros e estrangeiros que têm participado das atividades do Congresso Brasileiro de Poesia, realizado anualmente na cidade de Bento Gonçalves/RS, sempre na primeira semana de outubro

quarta-feira, janeiro 31, 2007


ANA PAULA PEDRO - Paulista, residente na cidade do Rio de Janeiro desde 1998, é atriz, psicóloga e poeta. Já participou de diversos eventos poéticos como: “Ponte de Versos”, de Thereza C. R. Motta, Ricardo Ruiz e Gilson Maurity, “Quarta Capa”, de Jiddu Saldanha, “República dos Poetas”, de Ricardo Ruiz, “Poemashow”, de Tavinho Paes e Ricardo Ruiz, “Segundas com Arte”, de Tanussi Cardoso, “Terça ConVerso no Café”, do grupo Poesia Simplesmente, “Circuito das Artes do Jardim Botânico”, alem, é claro, do Congresso Brasileiro de Poesia. Vencedora do prêmio “Poesia Simplesmente” no Festival Carioca de Poesia 2002.

MULHER

© ANA PAULA PEDRO
Para minha mãe, Inabel

Fruto sempre virgem,
Com agridoce sabor,
faz salivar os deuses.
As castas, as emudecidas
as profundas e profanas.

Como saber de que cor, que cheiro e sabor
podem estas deusas nos envenenar ?

Bruxas! Tiranas!
Heroínas que tecem, enrugadas fúrias,
o seco salivar do gozo dos homens.
Diletos...

São abelhas rainha, são operárias,
são lobas, também cachorras.
São zangões.
Lamaçal
ar e terra.
São mães e suicidas,
carentes e envaidecidas horas passam

São memórias, são água estas cegas.
São sozinhas,
quanto mais põem homens no mundo.

São fogos e desejam
como desejei um dia,
Renascer mulher.


WILMAR SILVA - poeta e artista, Wilmar Silva nasceu nos cerrados de Rio Paranaíba, interior do estado de Minas Gerais. Poeta por natureza. vive em Belo Horizonte desde 1986, onde trabalha com poesia. Publicou: “lágrimas & orgasmos”, “águas selvagens”, “dissonâncias”, “moinho de flechas”, prêmio Jorge de Lima de poesia da UBE 1992, “cilada”, adaptado para o teatro por Geraldo Octaviano, “solo de colibri”, prêmio Blocos de poesia 1997, “çeiva”, “pardal de rapina”, “anu”, “arranjos de pássaros e flores”, finalista concurso nacional de literatura cidade de Belo Horizonte 1997 e prêmio de poesia centenário Carminha Gouthier 2003, “cachaprego”, prêmio Capital nacional2005. Dramaturgo, ator, performer, encenou diversos espetáculos e criou os vídeopoemas: “Pardal de rapina”, “Invenção caipira”, “Anu”, “Cachaprego”. Gravou o cd: “V”, poemas de sua autoria musicados e interpretados por Jorge Dissonância. participa de diversas antologias e organizou uma: “O achamento de Portugal”, prêmio “Aires da Mata Machado”. Tem poemas publicados em diversos jornais e suplementos nacionais e estrangeiros. É curador do projeto de poesia “Terças Poéticas”, realização da Secretaria de Estado de Cultura de Minas.
ATLAS

© WILMAR SILVA

nem one nem um nem eins nas mãos
nem two nem dois nem zwei nos pés
nem three nem três nem drei nos pés
nem four nem quatro nem vier nos pés
nem five nem cinco nem fünf nos pés
nem six nem seis nem sechs nos pés
nem seven nem sete nem sieben nos pés
nem eight nem oito nem acht nos pés
nem nine nem nove nem neun nos pés
nem ten nem dez nem zehn nos pés
cem eleven cem onze cem elf mil mãos cem mil pés


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ANGELA MARIA CARROCINO – paulista de Pindamonhangaba, mas criada na cidade do Rio de Janeiro, é professora aposentada do Colégio Pedro II e bastante eclética: além de escritora e intérprete, é artista plástica e pedagoga. Teve sua poesia analisada no livro “Além do Cânone”, de Helena Parente Cunha. Dois livros de poesia publicados: “Tecendo Palavras” e “Tal Pai, Tal Filha”, este uma homenagem póstuma onde publica poemas de autoria de seu pai, além dos seus. Promove o evento poético “Charau – um sarau com chá e charme” no Sindicato dos Escritores do Estado do Rio de Janeiro, do qual é Diretora de Eventos. Escreve também contos, crônicas, livros infantis e ensaios e integra o Grupo Poesia Simplesmente. Fez sua estréia no Congresso Brasileiro de 2006.

GARRINCHA

© ANGELA MARIA CARROCINO

“A primeira vez que vi Tereza
achei que ela tinha pernas estúpidas...”

Manuel Bandeira

Da primeira vez que vi Mané
achei que ele tinha pernas estúpidas,
e custei a crer no que via:
levava a bola no pé
pra todo canto que ia.
Jogava tal qual criança,
com alegria e ingenuidade,
tinha a candura de um menino,
desconhecia a maldade...

Da segunda vez que vi Mané,
sua fã já me tornava,
entre tantos jogadores
só sua presença notava.
Fazia misérias com a bola,
sua companheira fiel,
deixando nos adversários
um gosto amargo de fel...

Da terceira vez que vi Mané,
a vida já lhe castigava:
perdera a candura do menino
e um homem amargo se tornava.
A bola já lhe fugia do pé,
as alegrias para trás ficavam,
os clubes que o disputavam
agora lhe dispensavam...
Driblou tantos vida a fora
que a vida lhe passou rasteira:
tornava-se uma triste sombra,
o ídolo de uma geração inteira!

Da última vez que vi Mané
custei a crer no que via:
mal se aguentava em pé,
do tanto e tanto que bebia...
A ingenuidade de outrora,
que eu tanto admirava,
foi sua real perdição:
entregou-se à bebida
por não aguentar essa vida
de inveja e traição.

Nunca mais eu vi Mané,
mas quando ouço um trovão,
imagino-o lá no céu,
“batendo o maior bolão!!...”



PAULO RENATO RODRIGUES natural de Pelotas, é médico psiquiatra, artista plástico, poeta e escritor. Tem participação em diversas antologias poéticas, inclusive no exterior. Em prosa, além das antologias da oficina literária do escritor Charles Kiefer, participou de “À Propôs des Masques / A Propósito de las Máscaras”, edição bilíngüe publicada no Canadá, e “Contos Mínimos, Idéias Máximas”. Obteve diversas premiações como artista plástico em salões no Brasil e no exterior. É presidente do Conselho Consultivo do Proyecto Cultural Sur/Brasil e tem assinado a arte das capas das últimas antologias publicadas pelo Congresso Brasileiro de Poesia, do qual tem participado religiosamente nos últimos anos.


PESCAR LEMBRANÇAS

© PAULO RENATO RODRIGUES

No embornal,
levo minha nostalgia
e um ou dois sonhos de outros tempos.

É nessas tardes caídas
que busco nas águas do açude
um ou dois trechos da fugidia memória.

Nesse cenário azul
das fímbrias da Serra do Mar
cessam todos os ventos.

São horas de passar o fio
e fazer um colar
com as contas da própria história.